A Sarcoidose é uma doença sistêmica, podendo acometer vários órgãos e causar uma sintomatologia muito variada. Um aspecto marcante para a clínica desta doença é o fato dos pulmões estarem quase sempre envolvidos. A grande maioria dos pacientes se apresenta com sintomas pulmonares.
Formas de apresentação
1. Assintomática
Algumas vezes a Sarcoidose é detectada em um indivíduo completamente assintomático, geralmente por um exame de rotina, como um RX de tórax. Neste caso, são achados com mais frequência a adenopatia hilar bilateral simétrica, com ou sem infiltrado pulmonar associado.
2. Aguda
Em outros casos, a Sarcoidose aparece com sinais e sintomas de doença aguda, desenvolvendo-se de forma repentina ao longo de algumas semanas.
Os indivíduos que iniciam com este tipo de evolução costumam apresentar sintomas gerais como febre, astenia e anorexia, que podem ser tanto leves quanto extenuantes. São comuns também os sintomas pulmonares, como tosse, dispnéia e um vago desconforto retroesternal.
3. Crônica
A forma insidiosa de Sarcoidose desenvolve-se ao longo de meses, e geralmente está associada a queixas respiratórias, sem sintomas gerais sistêmicos. Apenas 10% dos indivíduos que apresentam Sarcoidose de aparecimento insidioso, desenvolvem sintomas em outros órgãos, a Sarcoidose de início insidioso é a que mais frequentemente evolui para a cronicidade, com lesão permanente dos pulmões e outros órgãos.
Comprometimento de órgãos específicos
Noventa por cento dos indivíduos portadores de Sarcoidose apresentam um RX de tórax anormal em algum momento de sua evolução. Metade costuma desenvolver anomalias pulmonares permanentes (fibróticas).
O comprometimento pulmonar da Sarcoidose caracteriza-se primariamente por uma pneumonia intersticial, no qual o processo inflamatório envolve os alvéolos, bronquíolos e pequenos vasos sanguíneos. Os principais sintomas pulmonares incluem dispnéia e tosse seca.
A dispnéia geralmente é causada por comprometimento do parênquima (por fibrose ou pelo próprio granuloma), mas pode também resultar de obstrução granulomatosa das vias aéreas superiores. A dispnéia aguda, secundária a um pneumotórax, desenvolve-se também ocasionalmente em pacientes com doença pulmonar fibrótica mais avançada.
Pode haver atelectasias, resultantes tanto da granulomatose endobrônquica, quanto da compressão por gânglios hilares aumentados.
A pleura está comprometida em até 5% dos casos, quase sempre dando origem a derrames pleurais. Tais derrames costumam se resolver em semanas, mas podem resultar em espessamento pleural crônico.
A hemoptise é rara, mas pode ocorrer em associação a Sarcoidose cavitária avançada.
A mucosa nasal está comprometida em 20% dos pacientes com Sarcoidose, geralmente manifestando se sob a forma de obstrução nasal. Todas as estruturas orais podem ser comprometidas, com sintomatologia variada e pode haver rouquidão (quando a laringe é acometida), sibilos e dispnéia alta obstrutiva.
A adenopatia é muito característica da Sarcoidose: Os gânglios intratorácicos estão aumentados em até 90% dos pacientes, principalmente os hilares. A adenopatia hilar é geralmente bilateral e simétrica.
A adenopatia periférica é também muito comum, comprometendo principalmente os gânglios cervicais, axilares e inguinais, mas em geral não são importantes e frequentemente passam despercebidos pelo paciente. São geralmente indolores à palpação, não-aderentes, e geralmente não ulceram. A adenopatia raramente causa problema para o indivíduo afetado, entretanto, se for maciça, pode ser desfigurante e comprometer a função de vários órgãos por compressão.
A Sarcoidose acomete a pele em 25% dos casos. As lesões mais comuns são:
O eritema nodoso, caracterizado por nódulos eritematosos sensíveis na superfície anterior das pernas, não é comum na Sarcoidose crônica, mas é muito típico da forma aguda, em combinação com sintomas sistêmicos gerais e poliartralgias (Lõefgren). O eritema nodoso estaria associado à Sarcoidose como uma reação secundária a uma vasculite subcutânea inespecífica.
Granulomas sarcoídicos também ocorrem diretamente na pele, produzindo uma variedade de lesões maculares e papulares assintomáticas. Podem aparecer erupções maculopapulares elevadas, com menos de 1cm de diâmetro, e uma superfície plana e cérea.
São comuns na face, em torno dos olhos e nariz, no dorso e extremidades.
As placas são lesões indolores, violáceas, frequentemente elevadas, e ocorrem em geral na face, região glútea e extremidades. Os nódulos subcutâneos são muito comuns no tronco e nas extremidades.
O lúpus pérnio caracteriza-se por lesões endurecidas, azuladas e brilhantes, no nariz, bochechas, lábios, orelhas, dedos e joelhos. Em geral, a mucosa nasal está comprometida.
Granulomas da Sarcoidose também podem se desenvolver em cicatrizes cirúrgicas antigas e tatuagens. A Sarcoidose cutânea raramente causa maiores problemas, embora possa ser esteticamente desfigurante.
O comprometimento dos olhos ocorre em cerca de 25% dos pacientes com Sarcoidose, e pode provocar cegueira. Dos casos de comprometimento ocular, 75% desenvolvem uveíte anterior. Sintomas comuns são fotofobia, lacrimejamento e turvação visual. Pode haver síndrome de ceratoconjuntivite seca, quando houver comprometimento das glândulas lacrimais.
Lembrar que o quadro de uveíte anterior, associado a parotidite e paralisia facial define a síndrome de Heerfordt.
O comprometimento da medula óssea é descrito em até 40% dos casos de Sarcoidose, mas raramente existem alterações hematológicas significantes. Embora a esplenomegalia ocorra em até 10% dos pacientes, as consequências do comprometimento esplênico grave são semelhantes às de uma esplenectomia.
- Pâncreas, Intestino e Fígado
Embora a biópsia hepática revele o comprometimento deste órgão em até 90% dos casos, em geral isto não se torna clinicamente evidente. Da mesma forma, manifestações clínicas intestinais, ou relacionadas ao comprometimento do pâncreas, são bastante incomuns.
Além dos granulomas renais serem raros, quando ocorrem são frequentemente assintomáticos.
Como os granulomas da Sarcoidose podem ser responsáveis por uma produção anormal de vit.D ativa, é sabido que esta condição pode ser acompanhada de hipercalcemia.
Esta hipercalcemia é quem geralmente dá origem às manifestações renais da Sarcoidose, ou seja, através de nefrocalcinose ou nefrolitíase.
Qualquer parte do sistema nervoso pode ser acometida pela Sarcoidose, dando origem a sintomas dos mais diversos. O nervo craniano mais comumente comprometido é o facial, mas qualquer nervo pode ser afetado.
A mononeuropatia ou a polineuropatia dos nervos periféricos provoca perda sensorial, parestesias ou fraqueza motora.
Pode haver meningite asséptica, geralmente de instalação insidiosa- a meningite sarcóide - importante diagnóstico diferencial com a meningite por BK.
Granulomas dentro do parênquima cerebral podem produzir sintomas de lesão expansiva, como cefaléias, convulsões ou sintomas locais.
O aumento da parótida é um aspecto clássico da sarcoidose, embora apareça clinicamente apenas em 10% dos pacientes, (lembrar síndrome de Heerfordt).
O eixo hipotálamo-hipófise é a parte mais comprometida do sistema endócrino, manifestando-se geralmente por diabetes insípido. O hipopituarismo é raro. O comprometimento do córtex supra-renal, resultando em insuficiência glandular, tem sido descrito.
Embora frequentemente existam granulomas cardíacos nas necropsias de pacientes com sarcoidose, assim como no fígado, os sintomas clínicos são infreqüentes (menos de 5% dos casos). Quando ocorre comprometimento cardíaco, este pode se manifestar de muitas formas: bloqueios, arritmias, angina, aneurismas, derrame pericárdico e ICC.
O cor pulmonale é uma apresentação infreqüente, que ocorre em associação a uma fibrose pulmonar avançada.
- Ossos - Articulações – Músculos
O comprometimento ósseo envolve mais frequentemente as falanges, os metacarpos e metatarsos.
Manifestações externas incluem deformidades dos dedos e unhas distróficas.
Pode haver osteoporose e formação de cisto.
Diagnóstico
A história clínica nem sempre ajuda muito, porque os sintomas da sarcoidose são
muito parecidos com os de inúmeras outras doenças , mas pode ser muito útil para
excluir várias delas , que tem características particulares . O exame da pessoa
é de extrema importância, porque pode revelar sinais , tais como um gânglio ou o
baço aumentados e lesões na pele, que ajudam a suspeitar do diagnóstico.
Uma
vez que a sarcoidose não tem uma causa definida, não há exame laboratorial que
confirme o diagnóstico, porém vários deles podem mostrar alterações que mostram
o grau de envolvimento da doença. A radiografia de tórax é exame essencial.
Outros exames podem ser solicitados , sempre para verificar o acometimento de
vários orgãos do corpo, e também para acompanhar o tratamento.
O diagnóstico
de certeza é fornecido por uma biópsia de um tecido ou orgão acometido .
Tratamento
Não existe cura para a sarcoidose, e não existe evidência de que a terapêutica paliativa influencie a evolução da doença.
O principal objectivo do tratamento é a monitorização da actvidade da doença e a terapêutica sintomática no caso de ser necessária. É lógico utilizar a terapêutica menos dispendiosa e as técnicas menos invasivas. Em doentes que apresentem marcada restrição do volume pulmonar, por exemplo, a espirometria pode ser suficiente para monitorizar a progressão da doença e a resposta à terapêutica. Exames seriados com lâmpada de fenda são realizados para controlo da uveíte. As alterações da função hepática, as concentrações séricas de cálcio e as alterações endocrinológicas são contolados com análises de sangue.
Na doença parenquimatosa pulmonar o papel dos corticosteróides orais não é claro; porém, a maioria dos médicos utiliza-os, mesmo em doentes assintomáticos, quando o Rx do tórax mostra infiltrados pulmonares persistentes (estadios II-IV) e quando os testes de função respiratória seriados revelam que a situação se está a agravar.
A prednisolona é habitualmente administrada numa dose entre os 20 e os 40 mg por dia «per os», durante 4 a 6 semanas, e é interrompida se não se observar resposta terapêutica. Quando existe uma melhoria a dose deve ser gradualmente reduzida até atingir os 15 mg diários, posologia que deve ser mantida durante 6 meses e suspensa no fim deste período. A recorrência é comum, especialmente, em doentes de raça negra sendo por vezes necessário repetir a terapêutica. As alternativas aos corticosteróides incluem a hidroxicloroquina, azatioprina, ciclofosfamida e ciclosporina, mas segundo a literatura parece haver um menor benefício a longo prazo com estes fármacos. Embora sejam muitas vezes utilizados com a intenção de evitar os corticosteróides, a sua toxicidade quando utilizados prolongadamente tem que ser tida em consideração.
As manifestações de menor gravidade tais como irritação cutânea, polipose nasal ou patologia das vias respiratórias geralmente respondem bem aos corticóides tópicos. A uveíte deve ser tratada para prevenir a cegueira; a fluorometolona é de todos os colírios oftálmicos à base de corticóides o que apresenta menos probabilidade de provocar glaucoma. As crises agudas de sarcoidose melhoram com repouso e antiinflamatórios não esteróides; raramente é necessário utilizar corticosteródes sistémicos.
Muito raramente, só em casos refractários, está indicado o transplante quando existe falência de um órgão.